O que é uma fintech de impacto social?

Trata-se de um startup¹, do segmento financeiro, cujo propósito é causar algum impacto social na população da base da pirâmide (classes C, D e E), traduzidas para este segmento como os desbancarizados, ou seja, pessoas sem acesso a produtos e serviços bancários.

No Brasil, há mais de 55 milhões de cidadãos sem qualquer ligação com o sistema bancário formal.

Em um cenário de baixa competição como o brasileiro, com poucos bancos de varejo, é bastante compreensível que se concentrem em clientes de maior renda, deixando os menos favorecidos em segundo plano. Para entender a motivação dos empreendedores das fintechs sociais, traremos alguns conceitos e expoentes, tais como: base da pirâmide, microcrédito, C.K.Prahalad e Muhammad Yunus, compondo o pano de fundo de nossa análise.

“Base da pirâmide”- termo criado pelo professor indiano C.K. Prahalad, falecido em 2010, cujo livro A riqueza na base da pirâmide, publicado em 2002, explorou o gigantesco mercado dos indivíduos que sobrevivem com valores inferiores a U$ 5 por dia, naquela época em torno de 4 bilhões de indivíduos, assim como as oportunidades de negócio oriundas deste enorme contingente, tais como o desenvolvido pela rede varejista  Casas Bahia, cujo modelo” quer pagar quanto”, virou case na Universidade de  Harvard.

Muhammad Yunus, conhecido como o banqueiro dos pobres, este economista bengali, ganhador do prêmio Nobel da Paz de 2006, criou, na miserável Bangladesh, um sistema que ficou conhecido como microcrédito, emprestando valores de pequena monta a grupos de pessoas, em especial mulheres, para que pudessem investir em pequenos negócios que gerassem renda e ou melhorassem sua condição de vida, cujo modelo de negócios está fundamentado na confiança  e não em contratos e garantias reais, sobre o qual se debruça o sistema financeiro tradicional.

Colocado este pano de fundo, jovens brasileiros têm desenvolvido negócios de impacto conhecidos como fintechs sociais, unindo a vontade de empreender com o propósito de ajudar os menos favorecidos, utilizando-se de tecnologia para a criação de plataformas e contas correntes digitais.

Um exemplo é o Banco Maré, localizado na favela homônima, no estado do Rio de Janeiro, cujos moradores, em sua maioria desbancarizados, sem endereço oficial e comprovação de renda, necessitavam se deslocar para outras regiões da cidade para pagar contas ou recarregarem seu bilhete único ou telefone celular.

Hoje, através de um aplicativo e uma plataforma digital, os outrora desbancarizados da Favela da Maré, dispõem de um cartão pré-pago, o qual pode ser recarregado em pontos de atendimento na própria comunidade, conhecidos como kioscos, cujos atendentes são seus próprios vizinhos, com o objetivo de tornar o atendimento mais humano e seguro.

Visando incentivar a geração de renda local, foi criada uma moeda social, denominada palafita, em homenagem as primeiras casas da comunidade, utilizada para pagamentos e transferências. Há no país mais de 100 moedas sociais, movimentando o chamado sistema financeiro solidário brasileiro. Em São Paulo, o Banco Sampaio, localizado no bairro Jardim Maria Sampaio, criou sua moeda homônima, aceita por comerciantes locais. Como características comuns, são aceitas pelo Banco Central e possuem seu lastro no Real.

Exemplos em outros nichos, tais como, concessão de microcrédito digital a pessoas físicas, aplicativo direcionado ao gerenciamento, pagamento de impostos e transações financeiras das MEIs, assim como, uma plataforma online desenvolvida para negociação entre empresas e consumidores endividados, são explorados pelas fintechs sociais: Jeitto, Smart MEI e Quero Quitar, respectivamente.

Aceleradoras, incubadoras e fundos de investimento tais como Artemisia, Civi-co e Yunus Negócios Sociais, complementam o promissor e nobre ecossistema. A Civi-co, por exemplo, é um espaço de inovação para empreendedores cívico-sociais, atuando como um hub, reunindo pessoas e organizações que gerem transformações positivas na sociedade.

Concluindo, as fintechs sociais certamente não diminuirão a concentração de riqueza latente em países como o nosso, todavia, poderão trazer um pouco mais de comodidade, dignidade, opções de crédito e educação financeira, compreendendo e propondo soluções às necessidades específicas dos clientes da base da pirâmide, inserindo-os no sistema financeiro brasileiro.

Que não faltem tanto boas ideias como recursos financeiros e mentoria² a estes novos empreendedores, construindo negócios sustentáveis dirigidos à base da pirâmide.

Marcos Morita e Antonio Dirceu de Miranda, são autor e coautor respectivamente de textos para o blog da Bankrisk School of Banking. Conheça-os melhor visitando: https://bankrisk.com.br/

Bibliografia:

Prahalad, C.K. –  A riqueza na base da pirâmide;
Yunus Muhammad – Um mundo sem pobrezas

Para saber mais:

https://www.civi-co.net/
https://www.artemisia.org.br
https://www.bancomare.com.br
https://fintechs.com.br/fintechs-sociais-sao-tema-de-reportagem-no-mundo-s-a/

Referências

¹startup: empresa recém-criada ainda em fase de desenvolvimento que é normalmente de base tecnológica.

²mentoria: Derivado do inglês, metoring, mentoria, trata-se de uma ferramenta de desenvolvimento profissional que consiste na ajuda oferecida por alguém experiente a outro com menos experiência ou iniciante.